Podemos definir a hipertensão arterial quando os níveis pressóricos aferidos em pelo menos duas ocasiões diferentes, e sem tratamento medicamentoso, são iguais ou maiores do que 140x90mmhg. No Brasil, aproximadamente 30% dos adultos são hipertensos.
Estes valores não são ao acaso: Estudos mostram que as pessoas que mantém estes níveis pressóricos mais elevados aumentam o risco cardiovascular ao longo prazo – ou seja, o risco de ter um infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (“derrame”) ou evoluir para insuficiência cardíaca (“coração cansado”) e até mesmo óbito, justificando o tratamento com mudança de estilo de vida e muitas vezes com medicação específica.
Pressão sistólica | Pressão diastólica | ||
PA no consultório | ≥ 140 | e/ou | ≥ 90 |
MAPA 24h | ≥ 130 | e/ou | ≥ 80 |
MAPA vigilia | ≥ 135 | e/ou | ≥ 85 |
MAPA sono | ≥ 120 | e/ou | ≥ 70 |
MRPA | ≥ 130 | e/ou | ≥ 80 |
Não existe uma causa única que torne o individuo hipertenso: dizemos que a causa é multifatorial. Contribuem para o aparecimento desta doença alguns fatores de risco que não são passíveis de mudança, como idade, sexo masculino, histórico familiar de hipertensão, e outros em que é possível atuar e modificar, como sobrepeso/obesidade, tabagismo, alta ingesta de sódio e álcool, sedentarismo, uso de medicamentos que podem elevar a pressão arterial e a presença de apnéia do sono.
Isto é importante pois o inicio do tratamento passa por identificar os possíveis motivos pelos quais o individuo tornou-se hipertenso e atuar naqueles que são passíveis de tratamento, incentivando, por exemplo, mudança dietética, perda de peso e inicio de atividade física.
A hipertensão arterial causa sintomas?
Apesar de ouvirmos falar que dores na nuca ou dores de cabeça, bem como tremores ou queixas visuais, podem ser um sinal de que a pressão arterial está alta, é importante ressaltar que na verdade a hipertensão arterial não causa nenhum sintoma no dia a dia.
Ocorre que, ao percebermos um estimulo doloroso ou estresse, a pressão arterial aumenta por consequência da dor ou da ansiedade. Assim, quando vamos aferir a pressão, ela estará alta por ser uma reação ao sintoma, e não a causa do problema.
Podemos concluir, portanto, que os hipertensos podem conviver anos com valores aumentados de pressão arterial mesmo sem sentir nada.
Qual a importância de rastreio da hipertensão?
Se a pressão arterial não dá sintomas, só podemos detectá-la de uma maneira: aferindo a pressão arterial periodicamente em pacientes com fatores de risco para hipertensão utilizando aparelhagem adequada e equipe capacitada.
Recomenda-se aferir a pressão arterial anualmente naqueles com algum fator de risco para hipertensão (sobrepeso ou obesidade, alta ingesta de sódio, sedentarismo, tabagismo, uso de medicamentos que elevam a pressão, histórico familiar, etc) e em todos acima de 40 anos, independentemente de fatores de risco associados.
Medidas para prevenir a hipertensão
Algumas medidas podem ajudar a impedir o desenvolvimento da pressão alta, mesmo naqueles com histórico familiar:
– Manter o peso na faixa recomendada com base no índice de massa corpórea (essa é a medida mais eficaz)
– Redução da ingesta de branco, alimentos com temperos e conservantes com alto teor de sódio, industrializados e processados, com orientação nutricional
– Atividade física com no mínimo 150 minutos de exercício moderado na semana, com orientação médica e supervisão adequada.
– Evitar consumo diário de mais de uma dose de 30g de álcool ao dia
– Evitar tabagismo
– Controle do estresse e ansiedade
Como é o tratamento da hipertensão?
Após aferição da pressão arterial, se constatado valor acima de 140x90mmhg, o médico avalia o risco daquele paciente apresentar um evento cardiovascular – infarto, derrame, insuficiência cardíaca ou renal, e até óbito – nos proximos anos e, se for necessário, inicia medicação já no momento do diagnóstico com base no perfil do paciente.
Em muitos casos, em pacientes com hipertensão em estágio inicial e sem outros fatores de risco, não é necessário iniciar medicação imediatamente. São prescritas mudanças no estilo de vida e, com a cooperação do paciente e das pessoas que o cercam, é possível manter-se sem uso crônico de medicação, desde que apresente resposta ás orientações em até 3 meses e, após, seja reavaliado regularmente.
O objetivo de obter valores pressóricos adequados é justamente impedir a evolução para um evento cardiovascular.
Quais mudanças no estilo de vida são adequadas para controle da pressão arterial?
São muito semelhantes às medidas preventivas para evitar o aparecimento da hipertensão: uma vez diagnosticado, o individuo deverá:
– Controlar o peso, mantendo o índice de massa corpórea adequado,
– Não ingerir sódio em excesso (não mais que 2g/dia de sal),
– Realizar atividade física por no mínimo 150 minutos na semana,
– Não fumar
– Não ingerir mais do que 30g de álcool ao dia
– Buscar uma alimentação saudável
– Controlar estresse, buscando uma vida com equilíbrio.
Quais os principais cuidados com as medicações para hipertensão arterial?
Nem toda medicação que é adequada para um determinado paciente é indicada para todos: Existem perfis diferentes de hipertensos, com problemas de saúde diferentes, históricos de saúde pessoais e familiares diferentes e com respostas diferentes ao tratamento.
Desta maneira, é necessário sempre consultar-se com o médico assistente antes de iniciar a usar qualquer medicação para hipertensão, e para verificar a resposta do organismo ao medicamento.
Caso necessário, será proposto ajuste da dose, troca da medicação ou associação de outro remédio para controle adequado da pressão. Além disso, é importante sempre consultar o médico antes de iniciar qualquer suplemento nutricional, fórmula ou manipulado, homeopatia e até mesmo remédios sintomáticos usados ocasionalmente – como anti-inflamatórios para dor – uma vez que podem alterar a pressão e dificultar o tratamento.
Monitorando a pressão arterial em casa
É possível e recomendado realizar automedida da pressão arterial em casa, para auxilio no manejo terapêutico e engajamento do próprio paciente em seu cuidado e tratamento.
Recomenda-se utilizar aparelho de braço, evitando o uso de aparelhos de punho. Idealmente, sete medidas aferidas no período de 16 a 72h devem ser realizadas aleatoriamente. Os valores devem ser anotados juntamente com o horário do dia e data. Os dados são discutidos com o médico.
Exemplo:
Data |
Pressão Sistólica |
Pressão diastólica |
Horário |
2a feira |
120 |
80 |
07:30 |
2a feira |
145 |
90 |
11:30 |
2a feira |
130 |
80 |
17:00 |
3a feira |
110 |
70 |
08:00 |
O que evitar durante o preparo e escolha das refeições?
– No máximo 2g de sal ao dia é a quantidade recomendada para hipertensos, dividida entre todas as refeições.
– Não utilize o sal no preparo dos alimentos, pois a quantidade utilizada frequentemente é maior do que a planejada.
– Evite utilizar temperos artificiais e prontos no preparo da comida, pois costumam possuir alto teor de sódio em sua composição.
– Não deixe saleiro na mesa
– Evite alimentos ultraprocessados ou industrializados, como enlatados, conservas, embutidos, queijos, molhos prontos, carnes defumadas, sopas e massas prontas, frituras e salgadinhos/petiscos.
– Moderar o consumo de cafeína: Até 200mg/dia.
|
Cafeína em bebidas |
|
Volume (ml) |
Cafeína (mg) |
|
Café passado |
355 |
235 |
Café instantâneo |
237 |
63 |
Espresso |
30 |
63 |
Descafeinado |
237 |
2 |
Chá-preto |
237 |
47 |
Chá-verde |
237 |
28 |
Chá de camomila |
237 |
0 |
O que preferir na alimentação?
– Prefira temperos naturais, como alho e cebola, orégano, salsinha, cebolinha.
– Utilize azeite de oliva extra-virgem, 1 colher de sopa ao dia, para tempero de salada.
– Prefira os grãos e alimentos integrais (pães, cereais e massas integrais, broa, aveia, granola), que além de serem fonte de energia também são fonte de fibras.
– Inclua 4 a 5 porções (½ xícara se cozidos ou 1 xícara se crus ) de vegetais ricos em potássio e magnésio, como brocolis, cenoura, couve, abobrinha, ervilha, batata, espinafre, batata doce e tomate.
– Inclua de 4 a 5 porções (uma fruta media ou uma xícara de frutas menores ou ¼ xícara de frutas secas ou ½ copo de suco natural sem açúcar) de frutas ricas em potássio, magnésio e fibras, como: maçã, damasco, banana, uva, laranja, manga, melão, pêssego, abacaxi, morango e tangerina.
– Inclua 4 a 5 porções (cada porção sendo uma palma da mão cheia) por semana de amêndoas, avelãs, mix de castanhas, nozes, feijão, lentilhas e ervilhas.
– Inclua de 2 a 3 porções de leites e iogurtes desnatados ou light, margarina light, queijo branco light, ricota, cottage, ou requeijão light, ao dia. Considere uma porção como um copo de leite ou iogurte, 2 fatias finas de queijo ou 2 colheres de sopa de requeijão light ou cottage ou ricota.
– Prefira carnes sem gordura e pele, como, peixes, frango ou ovo, grelhados, assados ou cozidos. Para o preparo, utilize óleos vegetais: canola, milho, oliva e maionese ou margarina light.
– Minimizar consumo de doces – no máximo um doce pequeno ao dia – e preferir aqueles com baixa quantidade de gordura e sem gordura hidrogenada/trans.
Além do remédio: dicas práticas para aumentar a chance de sucesso no manejo da hipertensão
– Além de acompanhamento médico regular, é fundamental seguir também com nutricionista, uma vez que os alimentos influenciam diretamente nos níveis pressóricos devido ao sódio ingerido, além de existirem beneficios comprovados relacionados a consumo de potássio e magnésio na dieta.
– A atividade física deve ser enfatizada, com incentivo a exercícios que o paciente se sinta a vontade para realizar, que ocasione prazer na prática da atividade e possibilite a construção de uma rotina.
-Exercitar-se em grupo, em dupla ou com supervisão de profissional da Educação Física, com dias e horários marcados, é uma boa idéia para tornar da prática um hábito.
– O tabagismo deve ser intensamente desestimulado até a cessação completa. Além de ser um contribuidor para elevar o risco cardiovascular, a inalação da nicotina predispõe a arritmias e facilita a chamada “crise hipertensiva”.
-Existem terapias específicas para a interrupção do tabagismo, com e sem uso de medicação, e o cardiologista assistente deve ser sempre consultado para realizar a melhor orientação possível para cada caso.
– O sono é um aspecto importante no controle pressórico e frequentemente é esquecido nas abordagens de controle da pressão.
-Pacientes com sonolência diurna, histórico de apneia ou roncos a noite devem ser avaliados para síndrome da apneia-hipopneia obstrutiva, além de serem melhor orientados em relação a higiene do sono e construção de um sono reparador.
Minha pressão ficou alta em casa. O que fazer?
Pode ocorrer, na autoaferição em casa, de observarmos valores acima de 140x90mmhg. Muitos são os motivos: abuso de sal, uso incorreto ou esquecimento de doses da medicação, uso de medicação que eleva a pressão, tabagismo, estresse agudo, etc.
Muitas vezes, a conduta será conservadora, sem necessidade de ir ao serviço de urgência, com ajuste da dose da medicação. Contate seu médico para receber orientação adequada ou agendar uma consulta para reavaliar o tratamento.
Caso esteja sentindo falta de ar, dor no peito, confusão mental, mal-estar súbito, perda de força, tontura ou desmaio, dirigir-se imediatamente a um pronto atendimento, pois pode ser uma emergência hipertensiva.
Sinal Verde
– Pressão arterial sempre abaixo de <140x90mmhg ou com meta orientada por seu cardiologista
– Evitar sódio e alimentos e medicamentos que interfiram na pressão arterial
– Realizar atividade física e controlar o peso regularmente
– Manter hábito de boa higiene do sono e não fumar
Caso esteja aqui, parabéns! É Só seguir o acompanhamento e manter a saúde em dia!
Sinal Amarelo
– Valores seriados de pressão acima da meta orientada pelo médico assistente
– Consumo de álcool acima de 30g ao dia
– Ingerir alta quantidade de cafeína através de café ou chá
– Não dar importância ao controle do peso e escolhas saudáveis na dieta.
– Esquecer doses da medicação ou interromper uso sem conversar sobre troca da medicação
– Utilizar medicações, fórmulas, compostos ou manipulados de uso continuo ou sintomáticos sem informar o cardiologista
– Não dar importância a higiene e qualidade do sono
Caso esteja aqui, marque uma consulta com seu médico para obter orientações adequadas e evitar surpresas!
Sinal Vermelho!
Aqui, é uma emergência!
– Dores no peito
– Falta de ar
– Tontura aguda com ou sem escurecimento visual
– Confusão mental ou perda de força
– Mal-estar súbito ou desmaio
Ir direto ao hospital!
A hipertensão é fator de risco para doenças cardiovasculares incluindo infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Não esquecer e não subestimar!